quinta-feira, 12 de abril de 2007

Noite de São João

Hoje é noite de São João
Uma fogueira acessa, uma brasa
Tem música, tem um céu estrelado
E balões.

Hoje é noite de São João
Mas a noite está tão fria
Os olhos tão distantes
Que o coração gela.

Servem-me o leite, o bolo
E o gosto se parece, se soma e anula
Tento me aproximar da fogueira, do calor
Na noite de São João.

Na noite de São João as ruas estão mortas
As árvores ficam caladas, as calçadas
Todos tentam ouvir o que não é dito
E sentir o insensível: o calor

As estrelas representam anjos que nos vigiam
A fogueira, o amor que nos une; a comida, a fraternidade
E eu no meio disso tudo significo interrupção
O mundo caminha e pára na minha frente

Damos as mãos em volta da fogueira
Cantamos uma canção de infância, de algodão doce
Escutamos alguns rojões, bombas e crianças
E cachorros, eles odeiam as bombas.

Na roda as mãos dadas se esquentam
(seria tão difícil perceber os efeitos?)
de frente, alguns olhares se cruzam
e dizem que é a fogueira que aquece

tudo pode ser frio sem um pouco de fé
tudo pode ser distante sem uma música,
as crianças agora cantam, os adultos agora cantam
e os cachorros roubam a comida que deixamos de lado para dançar.

Hoje é dia de São João
E a noite estrelada brilha o que todos querem
E não buscam; e ainda tem luzes
E toda a cantoria que embala um sonho.

Hoje é noite de São João
O céu fica todo estrelado
fica todo iluminado,
Pintadinho de balão.

(DIF, 24/06/2006)

A Nadadora

Peito,
Contra o peito, contra o prumo, contra o mar
Socorro a meu próprio punho, ele não está atado,
Suspiro e caio, mergulho.

Nas costas,
carrego tudo o que colhi e guardei,
Frutos dos posicionamentos, dos questionamentos, das escolhas,
As minhas costas estão largas, mas suportam
Suportam e soberanamente, exalo.

Braços, pernas, frases,
Tudo bate, tudo voa,
A borboleta não sabe, mas intensamente vive um dia.
E eu, vivo todos como se eles fossem os últimos.
A noite pode até cair, mas eu continuo. Batendo.

Revezando entre bem e mal, noite ou dia,
Só sei que minha própria lua orienta as minhas vontades,
Se tenho a lua, tenho personalidade
E o toque dela só me agrada, gentil carinho
Dela sai a direção dos meus passos não direcionados.

Mesmo no submundo, no subnível,
Acho por onde retirar o ar do meu grito, da minha denúncia
E mergulho e saio, continuamente
Para mostrar que sou humana,
Mas enfrento com o peito como um Deus.

Não tem lirismo tolo no meu braço. Não tem vitrine
A minha única vidraça fala da minha vida. Ou não.
Porque vidraças denunciam, mas a minha apenas existe.
Minha vida está em aberto, porém escrita com meu próprio idioma.
Selado, meu.

Participam do meu mundo os que sabem esticar os pés, bater os braços,
Revirar em meia volta e se adaptar a novos sentidos, novos estilos,
Às vezes os segundos 50 metros que caminho, nada dizem dos primeiros,
Porque deixo o meu passado para trás, lavado.
Como tudo e como todos, banho.

Porque na verdade, não sou pétala, não sou espinho.
Sou esponja.

Posso ser o aço, posso ser a lã, mas quando passar você vai saber.
Porque acima de tudo, lavo, lavo.
Nado contra a corrente, enfrento sim.
E deixo nessa água as marcas que não cabem no meu mundo.
Afinal, meu mundo logo vai. E a vida valeu a pena.
(DIF – 12/05/2005)